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Gordo, mas saudável: é possível?

Gordo, mas saudável: é possível?

Todos nós conhecemos pessoas que estão acima do peso, às vezes dez, vinte ou muitos quilos mais do que seria o recomendado. E todos nós, já ouvimos algumas dessas pessoas dizerem: “sou gordo, mas estou saudável” ou ainda “sou gordo, mas todos os meus exames estão excelentes”, ou ainda “sou gordo, mas sou feliz assim”.

Em qualquer um dos casos acima, o que, na frase, vem depois do “mas”, surge como um “atenuante” emocional para uma situação que nada tem a ver com a saúde física nem mental.

Um estudo da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, com uma amostra de 3,5 milhões de pessoas, durante 20 anos (1995-2015), comprovou que indivíduos com sobrepeso ou obesidade (índice de massa corporal acima de 30), ainda que em algum momento ou por algum tempo apresentem exames clínicos considerados dentro de padrões saudáveis, estão muito mais propensos ao desenvolvimento de doenças como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos, acidentes vasculares cerebrais, etc. Os resultados do estudo foram apresentados no Congresso Europeu Sobre Obesidade.

Pensar nos problemas mais comuns relacionados ao excesso de gordura, como as doenças cardiovasculares, é uma parte da história toda. O tamanho do impacto na saúde é absolutamente maior.

O excesso de peso sobre as articulações, o sistema endócrino (produção de hormônios) sendo sobrecarregado, o sistema de controle hídrico e de temperatura corporal, os problemas de pele e de mobilidade são alguns dos exemplos do que isso pode causar no lado físico/fisiológico da saúde.

Ainda que durante muito tempo os resultados clínicos de exames apresentem padrões de normalidade, o que na verdade está acontecendo é uma sobrecarga de trabalho em todo o organismo para que consiga manter esses números.

O corpo é inteligente e “sabe” quais as melhores condições de funcionamento. Sempre irá trabalhar para mantê-las. No entanto, nesses indivíduos, esse trabalho acaba sendo multiplicado em intensidade e tempo, pois o ambiente todo (com excesso de gordura) é absolutamente adverso e, com isso, um envelhecimento mais rápido de todas as células acaba sendo inevitável.

Na outra ponta, temos uma questão extremamente delicada que são os problemas emocionais/sociais. Sem fazer apologia à estética e aos modelos de corpos veiculados como padrão de beleza pela sociedade, estamos falando de saúde e como é possível viver melhor e saudável, sem exageros ou radicalismos.

Muitas vezes, as questões emocionais relacionadas com a obesidade são mascaradas por comportamentos de defesa, que fazem a pessoa “mentir” para si mesma e assumir comportamentos de enfrentamento ou de “adoção do padrão de obesidade como estilo de vida”. No entanto, esses comportamentos, mesmo quando não transparecem, são capazes de gerar distúrbios que vão interferir na produção de hormônios relacionados, por exemplo, ao estresse, e que são capazes de agredir ou destruir células e mecanismos de funcionamento natural do corpo. Tudo isso, definitivamente, não contribuirá para uma vida saudável em nenhum momento.

Por outro lado, sabemos que um outro indicador de saúde é capaz de se sobrepor ainda mais à questão da obesidade, que é o sedentarismo. Diversos estudos demonstram que pessoas, ainda que acima do peso, quando são realmente ativas, são capazes de ter indicadores de saúde realmente melhores do que pessoas sedentárias e com peso considerado normal.

Agora, veja bem: em nenhum dos casos tratamos de padrões considerados ideais. Estamos apenas apontando uma ordem de prioridades. Ser ativo é questão quase que de sobrevivência básica para os seres humanos, independentemente do excesso de peso. E ser ativo com regularidade leva naturalmente a alguma (pouca ou muita) perda de peso, gerando mais benefícios ainda.

Quando somadas à uma alimentação melhor, os resultados crescem gradativamente. Sem álcool, tabaco, drogas, com menos estresse e mais horas de sono o cenário fica ainda melhor.

É óbvio que sabemos que esse cenário dos sonhos é praticamente impossível para a maioria das pessoas na sociedade moderna. No entanto, ter ele como objetivo final, e ir aos pouquinhos trabalhando cada uma das variáveis nesse sentido, deve ser a nossa meta.

*Cristiano Parente é professor e coach de educação física, eleito em 2014 o melhor personal trainer do mundo em concurso internacional promovido pela Life Fitness. É CEO da Koatch Academia e do World Top Trainers Certification, primeira certificação mundial para a atividade de educador físico.

 

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