
O risco que o futebol desconhece
Muito se veicula na mídia a partir da máxima de que o “esporte é saúde”. Entretanto, há uma enorme diferença entre o exercício que nos leva na direção da saúde e o treinamento que nos leva na direção do rendimento. Basta observar a incidência de lesões em função do excesso de treinos e do esforço durante temporadas, em qualquer esporte. Algumas lesões têm até dono: o cotovelo do tenista, o joelho do jogador de futebol, o ombro do jogador de vôlei, o cérebro do boxeador.
Sobre este último, sabe-se que a repetição de pancadas na cabeça, causadas pelos golpes do boxe, podem provocar, com o tempo, o surgimento de alterações cognitivas causadas pela encefalopatia traumática crônica (ECT), ou como foi considerada, a demência pugilística. Os acometidos por essa doença cerebral degenerativa desenvolvem perda de funções cognitivas, demência e perda de memória.
O que muitos não sabem é que, ao que tudo indica, o boxe não é o único esporte a colocar o cérebro em risco. O futebol americano tem sido estudado, em função da incidência de casos de demência e queixas de memória entre os jogadores, fato que está causando crises de conflitos de interesses entre cientistas, médicos, jogadores e a Liga Americana de Futebol, que deseja se isentar da responsabilidade por indenizações altas, além do estigma negativo que pode incorrer sobre o esporte, já que as pesquisas têm mostrado que as chances de desenvolver a doença são maiores em jogadores que iniciaram seus treinamentos antes dos 12 anos de idade.
O nosso futebol também não está livre deste fantasma, ao contrário. Já foi comprovado que nosso ex-capitão da seleção de 1958, Hilderaldo Luís Bellini, desenvolveu a doença, foi diagnosticado erroneamente como portador de Alzheimer, e a ECT foi diagnosticada após sua autópsia. Além dele, que começou a apresentar queixas de memória aos 18 anos, muitos outros jogadores apresentam os mesmos sintomas. Não se sabe se o que desenvolve a ECT neste esporte é o movimento de cabecear, acredita-se que as concussões causadas pelo choque entre cabeças, somado ao jogo que o cérebro sofre dentro do crânio pelas corridas, saltos e mudanças de direção possam compor o cenário favorável para lesões que desencadeiem a doença.
Após os 30 anos, nosso volume cerebral reduz, gradativamente, deixando um maior espaço entre o cérebro e o crânio, favorecendo ainda mais os edemas cerebrais nos praticantes de futebol de fins de semana. Enfim…pense bem no que vai escolher praticar! Talvez seja melhor, dependendo do seu objetivo, uma atividade em que seu organismo ganhe, ao invés do seu time.
*Cristiane Peixoto é mestre em Educação Física no Envelhecimento pela USP, criadora do Método Águia – desenvolvendo idosos saudáveis, e membro do WTTC Masterminds Team. www.idososaguia.com.br. Instagram @crispeixoto_vidasaudavel
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